PROJECTO CASULO II Vivo hoje, e sempre vivi, um conflito interior no que concerne a minha condição humana participando num mundo dominado pelo homem e luto constantemente com o paradoxo de respeitar a nossa raça enquanto criadora e empreendedora de tanto que nos melhora e facilita a vida, e temê-la enquanto predadora incansável dos recursos do planeta e humanos.
A consciência que me acompanha procura aceitar as diferenças étnicas, culturais, sociais e religiosas e todas as demais. Tenho consciência de uma ânsia pelo belo, justo e harmonioso, mas debato-me interiormente a fim de cultivar uma conduta aperfeiçoada como reconstruindo o que se entranhou no meu espírito, incutido ao longo de toda a vida pela sociedade muitas vezes tão cega à problemática da sua humanizada sobrevivência. Desde sempre a minha obra se relaciona com o Homem enquanto ser consciente de si próprio. A minha vontade, como criança e depois como adulto, ligou-se sempre à busca de uma realidade melhor, pelo que a cada passo a angústia e a frustração impõem-se. Continuo a batalha de deitar por terra os preconceitos que me invadem o espírito e que me amargam a alma. Luto...
Nesta engrenagem mundial altamente sofisticada, a sensação de impotência como ser consciente é grande e sinto-me de mãos atadas, por vezes como um bicho no meio de milhares que corroem este planeta, bem lentamente, tal como um cancro ou um vírus invadindo tecidos saudáveis com um único objectivo: o de hedonista e inconsequentemente sobreviver ignorando tudo o que está à sua volta. Sinto-me, portanto um egoísta em relação a este planeta e aterroriza-me que, como eu (uns melhores outros piores), existam milhares de pessoas que se preocupam sem fazer nada e essencialmente por pertencer a uma espécie que é capaz de destruir o próximo por algo a meu ver realmente fútil ou superficial - estou atento à sensação de poder acima de tudo sabendo que o ser humano é detentor de uma capacidade que ultrapassa qualquer outro ser existente, não sendo, contudo, capaz de quebrar hábitos, de abdicar de alguma matéria e de disponibilizar tempo para si e para os outros, ainda que isso envolvesse um esforço que não é mais que lucrativo. Acredito no tempo, se... Gota a gota se forma um oceano e só o tempo tem a capacidade de mostrar o passado, garantindo o presente e prometendo um futuro. E é esse o segredo da arte, uma arte enquanto angariação de esforços para que, juntos, acreditemos chegar ao futuro, agraciados pelo tempo que soubemos respeitar. João Pedro Rodrigues |