Biografia

Mergulho na magia de um mundo secreto

Para se falar da obra de João Pedro Rodrigues é preciso mergulhar no seu atelier transbordante de elementos orgânicos, sons aquáticos, peças de viagens, despojos do tempo, sínteses de outras atmosferas e motivos recorrentes do seu trajecto artístico.
As obras espalham-se por todo o Chão, penduradas ou pousadas.

Acumulam-se trabalhos realizados em períodos diferentes, tópicos de uma vida e de uma actividade regular de escultor. São testemunhos de uma evolução repartida entre a encomenda e a produção individualista.
Perpassam, nestas facetas, sinais corajosos de domínio de diferentes tecnologias e a audácia da experimentação. Proposta retomadas às vezes para serem alteradas, outras vezes prolongadas ou intocadas à espera do momento. Afinal uma oficina de escultor é, no seu conjunto, a obra mais completa de um artista e o espelho da espiritualidade do criador.

Mergulhando propriamente na obra em si haverá que dissecar estas facetas, aparentemente dispares, mas comunicando do mesmo universo inquietante e onírico.

A estética das suas criações anteriores, de recorte clássico, entram em diálogo com a pujança geométrica dos suportes, para realçar a presença do tempo e os aspectos de uma linguagem e de um imaginário contemporâneos.

Essas peças em gesso, cerâmica e cimento, com referência à cultura Grega, insinuando fragmentos de ícaros, corpos de homens-anjos, mulheres envoltas em véus ondulantes, faunos e seres de outros mundos, evocam a reunião do homem a um todo, ao cosmos, à totalidade do visível e do invisível. Suscitam uma aura de mistério, de enigma, sustentando uma solidão circunspecta e inquietante.

É assim que João Pedro Rodrigues convoca matericamente os conteúdos das memórias e torna cúmplice a interioridade e exterioridade.

 

 

 

A ÁGUA E OS SONHOS

"Tout ce que le cœur désire peut toujour se réduire à Ia figure de l’eau"
                                                                                             Paul Claudel  

 

Na sua produção recente o escultor insere alguns dos elementos da sua criação anterior num ambiente aquático, utilizando também por vezes elementos e fragmentos orgânicos, que remetem para referências antropológicas numa relação orgânica/humana, proporcionando assim ao espectador penetrar em paisagens encantadas e encantatórias, convocando-nos para o limiar da ilusão que relaciono a flutuação da identidade pela introspecção - MERGULHO NUM TEATRO PARA A CONSCIÊNCIA.

Estes ambientes aquáticos são "emoldurados" em receptáculos de vidro que recebem no seu interior vibrações lumínicas e estão apoiados em suportes de ferro geométricos.

João Pedro Rodrigues numa de suas obras utilizou o fogo saindo da água - os elementos em oposição mas elementos da mesma essencialidade. E nesta travessia das aparências e transparências mergulhamos o olhar nas miragens do fugidio mundo dos reflexos, em que a água é motivo indutor da imaginação e onde, através dela, o artista nos conduz a um outro patamar do imaginário, quando introduz e suspende fragmentos orgânicos ou matéricos do corpo que falam da fragilidade e do efémero, do destino das formas aprisionadas no líquido placentário, sustentando o insustentável peso e também leveza do ser... e ao infundir-lhes luz dinamiza, transfigurando-a pelo espírito.

A água parece então exercer um fascínio mágico nas imagens aprisionadas dentro dela e é ao mesmo tempo um ingrediente que lhes revela e atenua a sua própria natureza, o contrário do peso, da aspereza e da materialidade.

A submersão destas imagens, objectos, elementos orgânicos e fragmentos escultóricos de corpos aproximam-nos ao refúgio e defesa no interior da vida - A água placentária e matricial.

As últimas obras do João Pedro Rodrigues acentuam a démarche conceptual, além do formalismo, reclamando o espaço através da instalação, utilizando materiais diversos e recuperados.

Agora os seus espaços aquáticos são palcos e simulacros das memórias, às vezes com notas de humor e de alguma ludicidade, dialogando com o espaço onde se inserem através de efeitos de Trompe L’oeil.
Desse ambiente ambíguo de duplicações e reflexos vê-se na água desfazerem-se os contornos do tempo que por ela passa, diluindo-se nos contornos de um universo mental alimentado pelos temores contemporâneos de um inconsciente pessoal e colectivo - um mundo em fuga e em mutação.

A metamorfose sugerida como se o seu lado oculto fosse apenas anunciado...
Os reflexos sugeridos desse ambiente aquático apontam para uma outra espécie de visão, fugidia e secreto.
 Jogos de espelhos, imagens da alma, um olhar dentro de outro tempo, um espaço dentro de outro espaço

 

– VISÃO DA ALMA NUMA VIAGEM SUBMERSA                                                                   

 ISABEL LHANO

  Obter mais informações
  Voltar